Acho que actualmente quase toda a gente tem a noção que o petróleo é limitado e teremos que encontrar num periodo relativamente breve um combustivel que o possa substituir. Visto a maior parte do petróleo mundial se encontrar na zona do Oriente Médio, uma zona do globo altamente instável politica e militarmente, isto faz com que os incidentes aí ocorridos influam no preço do petróleo ao ponto de desestabilizar a economia a nivel mundial. Ora, os países ocidentais não podem estar na mão de governos radicais e empresas gananciosas que com a subida dos preços do petróleo podem muito bem colapsar as economias ocidentais que actualmente se encontram tão dependentes do petróleo. Acredito piamente que novos combustiveis e formas de energia alternativas ainda não foram mais profundamente investigadas e comercializadas graças ao enorme poder do lobbie do petróleo. A guerra do Iraque é um excelente exemplo do poder desse lobbie. O petróleo iraquiano está todo na mão de empresas americanas e inglesas...
É da necessidade de encontrar maneiras alternativas de energia e amigas do planeta que surge o debate do nuclear. Realmente é uma forma de energia bastante limpa (incomparávelmente mais limpa que o petróleo ou carvão por exemplo) e relativamente económica a sua produção. Porém com as tecnologias actuais as centrais correm o risco de fusão do seu núcleo se acontecerem acidentes graves ou se a sua manutenção não for feita permanentemente tal como a sua monitorização. Um acidente gravíssimo como a queda de um meteoro no nosso planeta (causa da extinção dos dinossauros e simplesmente uma questão de tempo até acontecer novamente) poderia causar posteriormente uma maior catástrofe, com a fusão do núcleo das centrais nucleares existentes no nosso planeta, caso a magnitude da catástrofe fosse realmente de grandes proporções e não se pudessem efectuar as tarefas de controlo e manutenção devido à falta de mão de obra qualificada. As centrais explodiriam com a consequente morte quase certa da totalidade dos seres vivos no planeta. Valerá a pena correr este eventual risco (apesar de remoto) havendo outras formas de energia mais seguras para o planeta e a vida nele existente?
Antecedentes
O primeiro grande acidente nuclear da história aconteceu a 28 de Maio de 1978 na central nuclear americana de Three Mille Island, devido a uma série de procedimentos incorrectos dos encarregados da sua manutenção que quase levaram à fusão do núcleo de um reactor da dita central.
O segundo e mais grave acidente aconteceu na central nuclear de Chernobyl na antiga URSS e actual Ucrânia. Todos os dados aqui descritos foram retirados dum documentário do canal de história que contou com a participação dos maiores responsáveis por todos os trabalhos efectuados na área da central de Chernobyl após a explosão do reactor nº 4, incluindo Michayl Gorbatchov presidente à data do acidente da antiga URSS.
Acho que o descrito demonstra o quão vulneráveis os humanos e até as máquinas são quando a radiação no ar atinge valores bastante elevados e que a manutenção e construção de novas centrais nucleares é um risco que pode aniquilar toda a vida no nosso maravilhoso planeta.
O Desastre de Chernobyl
Unidade de Medição de Radiação e Niveis Normais de Radiação
Antes de começar convém referir quais os niveis normais de radiação. A radiação é medida em Roentgen's. O nível normal de radiação na atmosfera é de 0,0012 Roentgen's (doze milionésimos de Roentgen). Um humano pode absorver até 2 Roentgen por ano e fica letalmente contaminado quando absorve mais de 400 Roentgen's.
Veremos que os niveis de radiação após o acidente foram para niveis até aí inimaginados até pelos grandes especialistas nucleares da altura.
Reactor nº 4
Localização da Central Nuclear
A Central Nuclear de Chernobyl está situada na povoação de Pripyat na Ucrânia, 18km a noroeste da cidade de Chernobyl, a 16km da fronteira com a Bielorrússia e a cerca de 110km a norte de Kiev a capital da Ucrânia. A central era composta por quatro reactores, cada um capaz de produzir um gigawatt de energia eléctrica (3,2 gigawatts de energia térmica). Em conjunto, os quatro reactores produziam cerca de 10% da energia eléctrica utilizada pela Ucrânia na época do acidente. A construção da central começou na década de 1970 com o reactor nº 1 acabado em 1977, seguido pelo nº 2 (1978), nº 3 (1981) e nº 4 (1983). Dois reactores adicionais (nº 5 e nº 6, também capazes de produzir um gigawatt cada) estavam em construção na época do acidente.
Reactores 5 e 6, nunca finalizados
Cronologia do Acidente
O acidente nuclear de Chernobyl ocorreu dia 26 de Abril de 1986, durante a madrugada.
Dia 25 de Abril de 1986, o reactor nº 4 estava programado para ser desligado para uma manutenção de rotina. Foi decidido usar esta oportunidade para testar a capacidade do gerador do reactor gerar suficiente energia para manter os seus sistemas de segurança (em particular, as bombas de água) no caso de perda do suprimento externo de energia. Reactores como o de Chernobyl têm um par de geradores diesel disponíveis como reserva, mas eles não são activados instantaneamente – o reactor é usado para arrancar a turbina, a um certo ponto a turbina seria desconectada do reactor e deixada a rodar sob a força de sua inércia rotacional, e o objetivo do teste era determinar se as turbinas, na sua fase de queda de rotação, poderiam alimentar as bombas enquanto o gerador estivesse desligado. O teste foi realizado com sucesso previamente em outra unidade e o resultado foi negativo (isto é, as turbinas não geravam suficiente energia, na fase de queda de rotação, para alimentar as bombas), mas melhorias adicionais foram feitas nas turbinas, o que levou à necessidade de repetir os testes. Um atraso verificou-se durante o dia 25 pelo qual o teste começou já entrada a madrugada do dia 26 de Abril.
O acidente deveu-se a que os encargados do reactor não respeitaram os procedimentos de segurança, originando a fusão do núcleo e consequente explosão do reactor nº4. A explosão tem origem quando o reactor nº4 foi desligado para proceder a esse teste de poupança de energia, originando um sobreaquecimento do núcleo do reactor que acabou por explodir.
Durante a tarde medições levadas a cabo pelo exército indicavam que os niveis de radiação em Pripyat ultrapassavam os 200 milionésimos de Roetgen (15.000 vezes mais que o normal). À noite a radiação já tinha subido para um nível 600.000 vezes superior ao normal. Durante o primeiro dia após a explosão os habitantes de Pripyat já tinham absorvido 50 vezes mais do que uma dose inofensiva. A esse ritmo teriam absorvido uma dose letal em 4 dias. Junto ao reactor na manhã do acidente registavam-se 2080 Roentgen. Com este nivel bastam 15 minutos para um ser humano receber uma dose letal de radiação. Sobrevoando o reactor nº 4 danificado, a temperatura a 200 metros de altura era de 120ºc a 180ºc. O dosímetro medidor de radiação ia até 500 Roentgen mas a agulha ultrapassava largamente esse número. As máquinas fotográficas tiraram unicamente 3 fotografias pois deixaram logo de funcionar. Mesmo a essa altitude 30 minutos de exposição podia ser letal. A 29 de Abril o nível de radiação sobre o reactor era de mais de 3500 Roentgen, quase mais 9 vezes que o nível letal.
O nível de radiação era tão elevado ao pé da central, que os robots utilizados para remover material radioactivo dos tectos dos outros reactores funcionaram apenas umas horas, findas as quais começavam a não responder aos controis e despenhavam-se do tecto dos reactores. Homens tiveram que realizar esse trabalho, sendo que cada turno não podia ultrapassar minuto e meio dado o nivel letal de radiação existente.
A nuvem radioactiva libertada pela explosão e incêndio do reactor nº 4 entre 26 e 27 de Abril pairava 1.000km sobre a Rússia, Bielorrússia e o Báltico. A 28 chega à Suécia (só aí é que o Kremlin é informado do desastre e pelos suecos que mediram a radiação numa das suas centrais nucleares, até aí os encargados soviéticos tinham dito a Gorbatchov que era um acidente menor o que se havia verificado na central nuclear). A 1 de Maio o vento muda e zonas de Kiev são altamente contaminadas (1.000 vezes acima do nível normal). Continuando a alastrar-se flutua até à Baviera na Alemanha e Norte de Itália. Césio radioactivo 137 e Iodo 131 chovem no Sul de França e Córsega contaminando os campos dessas zonas. A nuvem chega ao Reino Unido e alastra até à Grécia.
Lugares de maior radiação resultantes do acidente de Chernobyl
Queda de elementos radioactivos resultantes do acidente de Chernobyl
Níveis de radiação resultantes do acidente de Chernobyl
Só a 27 de Abril é que os primeiros habitantes de Prypiat começaram a ser evacuados. Por essa data chegam aproximadamente 1800 helicópteros com os melhores pilotos recrutados do Afganistão (país que a URSS tinha invadido) que atiraram aproximadamente 5000 toneladas de material extintor, como areia e chumbo, para dentro do reactor que ainda ardia. Esta operação durou até 5 de Maio, data na qual tinham sido evacuadas 130 mil pessoas duma área de 300.000 hectares englobando Ucrânia e Bielorrússia. Esta zona é evacuada e isolada do mundo. Comboios de 1000 carruagens estavam preparados em Kiev e Minsk para evacuar a população caso houvesse uma segunda explosão. Muita gente desconhece este facto, mas esta explosão esteve prestes a dar-se realmente, o que teria significado um desastre total para a Europa inteira.
A 5 de Maio começaram a circular uma série de boatos fundados duma 2ª explosão. 200 toneladas de magma branco e quente continuavam a arder no reactor nº 4 a mais de 3.000ºc, libertando litros de gases e poeiras radioactivas. O betão debaixo do reactor estava a rachar devido às altas temperaturas e debaixo dele havia muita água acumulada da tentativa infrutífera dos bombeiros apagarem o fogo. Por essa altura o magma (que mais não é que o combustível nuclear misturado com a grafite utilizada para arrefecer o reactor) pesava 195 toneladas e se entrasse em contacto com a água dar-se-ia uma explosão muito maior que a primeira. Bastariam que 1.400kg da mistura de urânio e grafite entrassem em contacto com a água para originar uma explosão com a força de 3 a 5 megatoneladas (a de Hiroshima tinha 20 quilotoneladas, ou seja 150 a 300 vezes menor que a potência da possível explosão). Minsk que é a capital da Bielorrússia e fica a 320km de Chernobyl seria arrasada e a Europa tornar-se-ia inabitável. Essa segunda explosão seria acompanhada por uma terrivel onda de choque e um aumento massivo da radioactividade que matariam milhares de vidas em poucas horas.
Mesmo depois de se retirar a água toda debaixo do reactor, continuava a haver 5% a 10% de risco duma segunda explosão.
Passadas mais de duas décadas a área de 300.000 hectares à volta de Chernobyl continua inabitada (todas as pessoas que se recusaram a ser evacuadas morreram), as terras e todas as coisas que nascem dela continuam contaminadas e assim continuarão nos próximos milénios! O tempo de meia vida do urânio é de 4,5 mil milhões de anos. Estima-se que o nosso Sol explodirá daqui a 5 mil milhões de anos, isto é, os campos contaminados pelo acidente da central de Chernobyl continuarão contaminados até ao dia que o nosso planeta desaparecer (só terá desaparecido metade da radiação absorvida) engolido pela explosão da estrela mais próxima do nosso planeta, a qual damos o nome de Sol.
A radiação também causou mutações e doenças degenerativas em milhares de pessoas e mesmo crianças que dão à luz agora nascem com mutações causadas pela radiação libertada pelo acidente nuclear.
Ainda hoje e apesar da construção do sarcófago a radiação é muito superior ao normal
A radiação também causou mutações e doenças degenerativas em milhares de pessoas e mesmo crianças que dão à luz agora nascem com mutações causadas pela radiação libertada pelo acidente nuclear.
As mutações continuam a ocorrer passados mais de vinte anos
Conclusão
A energia nuclear é uma energia que não liberta CO2, gás responsável pelo efeito de estufa e inerentes alterações climáticas, é relativamente barata e segura. Mas dizer que é segura não significa que está livre de acidentes, acidentes esses que como já se viu podem causar a extinção de toda a vida no planeta. E nós em Portugal apesar de não termos nenhuma central nuclear nem estar prevista a construção de nenhuma, não estamos livres dos efeitos nefastos duma possível catástrofe, pois como já se viu as ondas expansivas, nuvens e chuvas radioactivas percorrem uma enorme quantidade de kilómetros e uma explosão em Espanha ou em França poderá acarretar efeitos nefastos ao nosso país também.
É claro que temos que encontrar fontes de energia limpas e baratas, mas que por sua vez não tenham riscos para o planeta em si. Basta uma distracção (ou uma série delas como aconteceu nos Estados Unidos) dos funcionários para um acidente poder ocorrer e não podemos ter a arrogância de pensar que poderemos ter sempre as centrais debaixo de control pois a Natureza está sempre a mostrar-nos a sua imprevisibilidade, a sua força e o quão impotentes nos pode deixar a nós seres humanos.
Pessoalmente acho que os riscos do nuclear não compensam os proveitos daí ser necessário ou encontrar métodos que previnam a fusão do núcleo de forma automática e sempre sem a intervenção humana (parece-me complicado mas também não sou nenhum físico nuclear) ou então encontrar outras formas de energia igualmente amigas do ambiente mas com um potencial de risco de catástrofe muito menor.
Penso que a Europa devia assumir um papel proponderante na descoberta e produção de novas formas de energia, ao mesmo tempo que se deveriam encerrar progressivamente as centrais já existentes.
O facto de que o petróleo comanda o mundo não é nada de novo, assim como as armas. Agora temos que ver que a energia nuclear representa apenas mais um passo para outro tipo de energias. A nuclear representa também o querer libertar-se do petróleo, encontrar alternativas.
ResponderEliminarVerdade é também que estamos muito limitados em termos de pesquisas, uma vez que os lobbies supra citados não querem de forma nenhuma uma energia barata, seja ela limpa ou suja. A questão está no preço. Acredito que se fosse hoje não teríamos energia nuclear, o "big brother" não deixava.
Esperemos que chegue o dia em que possamos atingir sonhos como a fusão a frio.
Aproveito pra deixar aqui um sentimento de pena por este não ser um blog mais comentado, pois tenho a certeza que neste post em concreto muitas das pessoas que o leram não faziam ideia de metade do que lá se passou!
Mas também tenho a certeza que este blog atingirá um lugar de destaque.
Um abraço
Nuno Filipe
O Brasil possui duas usinas nucleares em atividade (Angra I e Angra II, em Angra dos Reis, RJ), e mais de 80% de todo a matriz energética brasileira é provida através de Usinas Hidreelétricas, aproveitando o curso de inúmeros rios. No Nordeste há usinas eólicas e praticamente todos os carros produzidos no Brasil são flex (funcionam com gasolina e etanol).
ResponderEliminarMas estamos longe de sermos exemplos. O Brasil é o país do desperdício. Projetos de energia mal-estruturados desperdiçam milhões de Reais dos contribuintes e empresas politiqueiras tentam o tempo todo reinventar a roda: Não temos a menor necessidade de constrir mais usinas nucleares, embora haja projetos para isso, é claro de multinacionais tentando mercados (que mercado?) a conquistar... Nesse frenesi por licitações acabam ocorrendo inúmeras irregularidades técnicas, tal como o acidente nucleat de Goiânia (MS), em que um menino achou um pózinho brilhante dentro de uma sucata... que era um aparelho de raio-x descartado irregularmente por um hospital.
Mas com relação á Angra dos Reis, Angra I foi um péssimo negócio. Foi um empreendimento caro demais e deve se esgotar antes da vida útil, de 25 a 30 anos (de 1985 a 2015). Devemos lembrar que a ditadura no Brasil vigorou de 1964 á 1985. O próprio projeto, assinado pela Westinghouse é obsoleto, desenvolvido na década de 50, é uma adaptação dos primeiros reatores dos submarinos nucleares americanos. O subsolo de Angra I é instável, antes de entrar em operação, a sala do turbogerador chegou a ceder, inclinando o eixo da turbina. A poucos metros de Angra I: O problema, causado pelo rabaixamento do lençol de água no início das obras de Angra 2 foi resolvido com uma cortina de lama subterrânea. Mas não se sabe até quando.
75% da energia provida na França é de origem nuclear. Coragem, não?
A grande indignação que eu tenho é que mesmo sendo possível desenvolver outros tipo de energia, continuamos a pela via duvidosa simplesmenteporque alguem está enxendo o boldo de dinheiro. Mais grave do que qualquer acidente nuclear é a Mentira.